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  • Foto do escritorLeonardo Marques

Quando falamos de artefatos culturais, que imagem lhe vem à mente?



Talvez algumas pessoas vão se lembrar de documentários sobre a idade medieval ou períodos pré-históricos, com arqueólogos buscando fragmentos de objetos de povos antigos, ou então de filmes como o Indiana Jones, em que havia buscas por tesouros, nas quais não era raro encontrar alguns grupos de pessoas em seitas ou cultos espirituais.


Essa associação faz bastante sentido, pois artefato cultural é um termo técnico muito utilizado por historiadores ou arqueólogos para se referir a algum objeto, instrumento, símbolo, pintura ou qualquer outra forma de registro que ajuda a explicar como eram as crenças, hábitos e as estruturas sociais de determinada cultura. São como peças de um quebra-cabeça que nos contam histórias sobre como as pessoas viviam em outros tempos, o que era valorizado nessas culturas e também aquilo que não era tolerado ou, até mesmo, digno de punição.


No contexto das empresas, Edgar Schein descreve os artefatos culturais, ou organizacionais, como sendo as características visíveis ou experienciais da cultura, ou seja: tudo aquilo que uma pessoa escuta, vê ou sente quando se depara com uma organização.


Esta imagem do iceberg ajuda a representar bem o papel dos artefatos na dinâmica cultural de uma organização: ao passo que as crenças e valores são um pouco mais difíceis e demoradas de se perceber, por estarem submersas nas percepções subjetivas dos colaboradores, os artefatos podem ser mais facilmente identificados apenas por meio de uma observação mais profunda.



Schein classificou os artefatos organizacionais em 4 categorias: Estruturas Físicas e Símbolos; Rituais e Cerimônias; Linguagem Organizacional; e Histórias e Heróis:


1. Estruturas Físicas e Símbolos: referem-se à configuração do ambiente de trabalho (o refeitório, a sala de reuniões, uniforme, crachá, troféus, etc).

2. Rituais e Cerimônias: são os eventos institucionais, processos seletivos, integração de novos colaboradores,reuniões de feedback, etc.

3. Linguagem Organizacional: são elementos da linguagem usados no dia a dia da empresa, como as metáforas, jargões, slogans, hashtags, etc.

4. Histórias e Heróis: são acontecimentos marcantes na organização ou pessoas que servem de inspiração para os demais por seus feitos no passado.


Além desses, também podemos considerar uma quinta categoria, que são os Sistemas e os Indicadores Organizacionais, que direcionam os processos do funcionamento da empresa. Embora não tenha sido descrito por Schein, esta categoria possui todas as características descritas pelo autor, principalmente no que diz respeito a influenciar diretamente os comportamentos de colaboradores ou consumidores. Até existe uma máxima que diz: "me digas como me medes que eu te direi como me comporto".


No entanto, apesar de serem instrumentos culturais tão relevantes para tantas organizações, um ponto curioso é que a maioria dos artefatos costumam ser criados sem muita intencionalidade, ou seja, eles simplesmente surgem na organização para resolver alguma necessidade específica ou mesmo como uma forma natural de expressão dos indivíduos pertencentes àquela cultura.


É aquela famosa reunião criada para alinhar algum assunto que não estava sendo discutido com regularidade na equipe ou até mesmo um momento informal que se tornou indispensável na rotina dos colaboradores, como um cafezinho ou um happy hour.


E isto pode ser algo a se preocupar, pois, quando um artefato é criado dessa forma, sem se pensar em suas premissas, existe um grande risco deste artefato reforçar comportamentos incoerentes ou indesejados em uma cultura. Alguns exemplos ajudam a ilustrar:

  • Uma cultura que busca promover a colaboração, mas que só mede resultados individuais;

  • Um layout de ambiente de trabalho sem divisórias, mas que mistura profissionais que precisam se concentrar com outros que passam bastante tempo em chamadas;

  • Reuniões entre líderes estratégicos para passar simples informações ou fazer alinhamentos que poderiam ser feitos em uma mensagem ou um e-mail;


Além destes exemplos, poderíamos citar diversos outros artefatos que podem até ajudar a criar um fluxo na operação ou a trazer algum alinhamento importante para a organização, mas, como dito anteriormente, se as premissas e os valores relacionados a estes artefatos não estão em congruência, isto pode gerar danos nocivos para a cultura que a empresa deseja construir.


Por outro lado, quando analisamos aqueles artefatos mais poderosos de uma organização e que contribuem, de fato, com a construção da cultura desejada, podemos notar algumas características em comum entre eles:


1) Criam um contexto de pertencimento



Eles unem os membros de uma organização com a história dela e com seus valores. (ex: evento de aniversário da empresa com espaço para reconhecer colaboradores responsáveis por grandes conquistas ou por momentos de superação);

2) Revelam necessidades organizacionais

3) Apontam uma direção para seguir


Case prático de um trabalho com artefatos que realizamos:


Para exemplificar ainda melhor alguns artefatos que contém estas características, vamos contar o case de um de nossos clientes, a Sicredi Vale do Piquiri AbcdPR/SP, uma das 108 cooperativas do Sicredi, com 32 anos de história. A área de atuação desta cooperativa abrange 43 cidades no estado do Paraná e 8 cidades no estado de São Paulo, incluindo a capital paulista e cidades vizinhas do grande ABCD e conta com 1.150 colaboradores.


Com eles, estamos apoiando um programa de disseminação cultural chamado Prospera, que, em uma de suas etapas, os líderes de 10 áreas mapearam todos os seus artefatos culturais, com a ajuda de suas equipes, e escolheram alguns deles para serem revisados e registrados na plataforma de gestão do conhecimento da cooperativa.


Um exemplo destes artefatos é um selo chamado de "Gente que coopera cuida", que é aplicado em todos os programas da cooperativa relacionados com o tema de cuidado com pessoas, que faz parte de um dos seus princípios culturais.


Apesar deste selo existir há bastante tempo, antes da pandemia este selo não era tão utilizado. Após algumas reflexões durante o processo de revisão deste artefato, olhando para as premissas básicas dele e detalhando o processo como um todo, eles perceberam que, ao usar este selo em cada ação relacionada com o cuidado com as pessoas, eles estarão promovendo os valores centrais da cooperativa. Além disso, eles também estão incentivando o cuidado orgânico entre as pessoas e conectando as diversas ações ligadas ao tema.


Segundo Elisangela Pereira Fortini Mancini, gerente de Gestão de Pessoas: "algo recente que vem marcando a minha vida profissional e pessoal é o momento que estamos vivendo e a forma como a Cooperativa vem cuidando dos colaboradores. Os agradecimentos, a fala de cada colaborador, o muito obrigado por uma mensagem enviada, pela preocupação com a vida de cada um. E, como Gerente de Gestão de pessoas liderando essa ação, sinto que estamos efetivamente cumprindo com o nosso papel. E, principalmente, criando um legado e fortalecendo ainda mais a nossa cultura, onde as nossas relações são humanizadas.”


Como sequência a este trabalho de revisão e estruturação de mais de 10 artefatos da cooperativa, eles também decidiram revisar um dos seus artefatos mais importantes: O Ritos de Gestão de Agências.


Este artefato consiste em um Guia Cultural que cada um dos mais de 120 gerentes de agências utiliza para se orientar nas ações rotineiras e até mesmo para tomadas de decisões estratégicas. Neste material, estão detalhados os princípios culturais norteadores: como é o processo e os rituais de gestão de equipes; como usar os principais indicadores da cooperativa; e quais são as ferramentas de apoio para diferentes processos.


Para a gerente de Gestão de Pessoas, Elisangela Mancini, os artefatos trazem uma organização de agenda, ritos de como deve ser cumprido, além de ajudar a espalhar e a acelerar a cultura de uma forma organizada na empresa.


Sobre o impacto deste programa, a gestora conclui: "Como fortalecer a cultura se você não conhece os ritos e artefatos que tornam a cultura da empresa forte? O apoio da consultoria Tribo foi fundamental nesse processo de conhecimento dos nossos artefatos existentes e na criação de novos artefatos".


Por fim, gostaria de deixar uma mensagem final destacando o quão desafiador é construir uma cultura forte e direcionada por propósito e valores culturais. A cultura está acontecendo o tempo todo, nas interações e decisões do dia a dia e, é por isso, que os artefatos podem ser aliados muito poderosos para sintonizar os membros de uma equipe em uma atmosfera envolvente que, aos poucos, irá materializar a cultura desejada.



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